Com licença poética
Adélia Prado
Quando
nasci um anjo esbelto,
desses
que tocam trombeta, anunciou:
vai
carregar bandeira.
Cargo
muito pesado pra mulher,
esta
espécie ainda envergonhada.
Aceito
os subterfúgios que me cabem,
sem
precisar mentir.
Não sou
tão feia que não possa casar,
acho o
Rio de Janeiro uma beleza e
ora
sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o
que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro
linhagens, fundo reinos
- dor
não é amargura.
Minha
tristeza não tem pedigree,
já a
minha vontade da alegria,
sua
raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser
coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher
é desdobrável. Eu sou.
PRADO,
Adélia, Bagagem. São Paulo: Record, 2003.
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