Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Poesia

Inscrição

Imagem
Sou entre flor e nuvem, Estrela e mar. Por que havemos de ser unicamente humanos, Limitados em chorar? Não encontro caminhos Fáceis de andar. Meu rosto vário desorienta as firmes pedras Que não sabem de água e de ar. E por isso levito. É bom deixar Um pouco de ternura e encanto indiferente de herança, em cada lugar. Rastro de flor e estrela, Nuvem e mar. Meu destino é mais longe e meu passo mais rápido: A sombra é que vai devagar. MEIRELES, Cecília. In: Moisés, Massaud. A literatura brasileira através de textos. 21. ed. São Paulo: Coutrix, 1998. p. 454.

Poeminha da ciência sem presciência

Imagem
Eu sou da geração Que mais se boquiabriu E esbugalhou os olhos, Imbecil, À florescência Da ciência. Me maravilhei com a sulfa, A vitamina, O transistor, o laser E a penicilina. Ante-televisão Bestei com a teleobjetiva A quarta dimensão O quilouóti posto na locomotiva O relógio digital O computador e a computação A lente helicoidal E a radiografia, Babei com a holografia! Embora pró Sou também pré-jatopropulsão O que me torna preprojatopró, Termo que não ocorreria À minha vó Tenho a vaga impressão De que a ciência Brochará sua invenção Quando morrer o espanto Da minha geração Millôr Fernandes 

Poema - Antônio Mendes Cardoso

Na espuma verde do mar desenharei o teu nome Em cada areia da praia em cada pólen da flor em cada gota do orvalho o teu nome deixarei gravado No protesto calado de cada homem ultrajado em cada insulto em cada folha caída em cada boca faminta hei de escrever o teu nome Nos seis férteis das virgens nos sorrisos perenes das mães nos dedos dos namorados no embrião da semente na luz irreal das estrelas nos limites do tempo hei de uma esperança semear. Antônio Mendes Cardoso (Cabo Verde) In No reino de Caliban . p. 261.

Homero – vida e obra

            Por volta do século XV a.C. a Grécia é ocupada pelo aqueus, povo indo-europeu. Com base em uma sociedade altamente estruturada e original, esse povo é responsável pelo surgimento de uma nova cultura que se expande pelo Mediterrâneo oriental. O centro irradiador dessa cultura é Micenas.             Com a chegada dos jônios é fundada a cidade de Atenas, e a civilização creto-micênica atinge o apogeu, até que a região é invadida pelos dórios, também de origem indo-europeia, entre 1200 a.C. e 1100 a.C.             A chegada desse povo guerreiro ao território grego contribuiu decisivamente para a decadência da ilha de Creta e o consequente desaparecimento por completo da antiga civilização micênica. Tem início então uma nova fase no desenvolvimento histórico das regiões situadas na bacia do mar Egeu.  ...

Amor fino e mudo – Shakespeare

Como imperfeito ator que em meio à cena, O seu papel na indecisão recita,              Ou como o ser violento em fúria plena,      A que o excesso de forças debilita; Também eu, sem confiança em mim, me esqueço No amor de os ritos próprios recitar,          E na força com que amo me enfraqueço   Rendido ao peso do poder de amar:         Oh! sejam pois meus livros a eloquência, Áugures mudos do expressivo peito, Que amor implorem, peçam recompensa, Mais do que a voz que muito mais tem feito. Saibas ler o que o mudo amor escreve, Que o fino amor ouvir com os olhos deve.

Minha musa (Álvares de Azevedo)

1. Minha musa é a lembrança Dos sonhos em que eu vivi, É de uns lábios a esperança E a saudade que eu nutri! É a crença que alentei, As luas belas que amei E os olhos por quem morri! 2. Os meus cantos de saudade São amores que eu chorei, São lírios da mocidade Que murcham porque te amei! As minhas notas ardentes São as lágrimas dementes Que em teu seio derramei! 3. Do meu outono os desfolhos, Os astros do teu verão, A languidez de teus olhos Inspiram minha canção... Sou poeta porque és bela, Tenho em teus olhos, donzela, A musa do coração! 4. Se na lira voluptuosa Entre as fibras que estalei Um dia atei uma rosa Cujo aroma respirei... Foi nas noites de ventura, Quando em tua formosura Meus lábios embriaguei! 5. E se tu queres, donzela, Sentir minh'alma vibrar, Solta essa trança tão bela, Quero nela suspirar! E dá repousar-me teu seio... Ouvirás no devaneio A minha lira cantar! 1. ...

LIRA XIX

Tomás Antônio Gonzaga (1792) Enquanto pasta, alegre, o manso gado, Minha bela Marília, nos sentemos à sombra deste cedro levantado. Um pouco meditemos na regular beleza, que em tudo quanto vive nos descobre a sábia Natureza. Atende, como aquela vaca preta o novilhinho seu dos mais separa, e o lambe, enquanto chupa a lisa teta. Atende mais, ó cara, como a ruiva cadela suporta que lhe morda o filho o corpo, e salte em cima dela. Repara como, cheia de ternura, entre as asas ao filho essa ave aquenta, como aquela esgravata a terra dura, e os seus assim sustenta; como se encoleriza, e salta sem receio a todo o vulto, que junto deles pisa. Que gosto não terá a esposa amante, quando der ao filhinho o peito brando e refletir então no seu semblante! Quando, Marília, quando disser consigo: “É esta de teu querido pai a mesma barba, a mesma boca e testa.”[...] Que prazer não terão os pais, ao verem com as mães um dos filhos ab...