A rainha das Amazonas
Enquanto
seu navio corta as águas, Héracles apóia-se em sua clava e pensa no trabalho
que tem diante de si: levar a Micenas o magnífico cinturão de Hipólita, rainha
das amazonas.
Héracles não conhece o medo. Mas, apesar de já ter combatido inúmeros
monstros e enfrentado muitos perigos, preocupa-o tudo o que ouviu dizer das
amazonas.
Guerreiras valentes, elas usam elmo e
couraça, cavalgam com notável habilidade e são temidas no manejo do arco. Além disso, têm aos homens tanto ódio que não
hesitam em mutilar ou matar os próprios filhos se estes forem do sexo
masculino. Fala-se também (mas disso
ninguém tem certeza, pois são poucos que as viram e sobreviveram para contar a
história) que elas amputam o seio direito, para poder usar o arco com mais facilidade.
Chegando à foz do rio que banha o país
das amazonas, o herói decide permanecer no primeiro porto que avista. No minuto exato em que o navio atraca,
aparece sobre as colinas vizinhas uma tropa de cavalaria impressionante, toda
engalanada.
Armadas até os dentes, cabelos ao vento, as amazonas descem ao
porto. Héracles dirige-se à hora de
guerreiras, entre as quais logo identifica Hipólita - em seu esplêndido traje
de combate, a rainha é facilmente reconhecível.
Na cintura, ela leva o magnífico cinturão que Ares, o deus da guerra,
deu-lhe de presente.
Hipólita também reparou em
Héracles. Seduzida pela enorme estatura
e pela possante musculatura do herói, a rainha acalma o ardor combativo de suas
guerreiras e dispõe-se a falar tranquilamente com ele. Héracles convida-a a descansar um pouco em
seu barco.
A rainha aceita e, na coberta do navio,
começa a conversar longamente com Héracles e a contemplá-lo com olhos cheios de
amor. Como prova dessa afeição nascente,
tira o cinturão e oferece-o ao semideus, o primeiro homem a inspirar-lhe
ternura. Héracles recebe com alegria o
presente, feliz por ter cumprido sem nenhum combate essa tarefa.
Mas tal harmonia desagrada a Hera, que,
já sabemos, detesta Héracles. A deusa
assume aparência de uma amazona e, esgueirando-se entre as fileiras do exército
de mulheres, começa a espalhar o calunioso boato de que os estrangeiros querem
raptar a rainha Hipólita. Loucas de
raiva, as amazonas vestem as couraças, pegam as armas, montam nos cavalos e,
vociferando, vão para o porto, onde atacam as sentinelas de Héracles.
Surpreendido pelos gritos, o herói sai
da cabine. Diante de seus olhos,
trava-se entre seus homens e as terríveis amazonas um combate feroz.
Certo de que foi traído, Héracles mata
Hipólita e entra na luta. Fazendo
girar sua maça, abre caminho entre as
inimigas. No calor do combate, o
semideus da pele de leão enfrenta tudo, esquiva-se das flechas e revida todos
os golpes.
As bravas guerreiras compreendem que
não estão enfrentando um adversário comum.
Muitas já estão caídas na poeira, e o resto do exército encontra-se na
maior confusão. Algumas ficam com medo. Até aquele momento, julgavam-se invencíveis,
mas Héracles mostra-lhes que a coisa é bem diferente. Em pânico, fogem a galope. Então, Héracles ordena a partida do navio.
Algum tempo depois, chega a Micenas e
dá o cinturão a Euristeu, que se apressa a mandar colocá-lo como enfeite no
templo de Hera.
Ainda insatisfeito com essa façanha
prodigiosa, o covarde soberano obriga Héracles a buscar o maravilhoso rebanho
de bois do gigante Gerião, tido como o homem mais forte do mundo. Apesar de suas três cabeças, seis braços e
três corpos reunidos numa só cintura, o monstro não consegue dominar o herói e
acaba perdendo o gado. Parte em
perseguição a Héracles ao longo da costa da África do Norte, mas o herói passa
à Europa e, para impossibilitar que Gerião o siga, separa os dois continentes. Afastando rochedos, Héracles abre o mar
Mediterrâneo no lugar que hoje chamamos de estreito de Gibraltar e que os
antigos denominavam Colunas de Hércules.
Em seguida, enviado em busca das maçãs
de ouro do jardim das Hespérides, Héracles as traz a Heristeu.
Só resta um trabalho a cumprir - o mais
difícil! Tem de descer aos infernos e
capturar Cérbero, o horrível cão de três cabeças que guarda esses sinistros
lugares. Ao final de um combate em que
recebe várias dentadas, Héracles doma o animal e leva-o a Euristeu. Aterrorizado com a aparência do monstro, o
rei esconde-se dentro de um jarro, tremendo todo.
Dessa maneira, tendo cumprido seus doze
trabalhos, Héracles vê-se enfim livre para partir pelo mundo, pondo a serviço
da justiça sua força e coragem.
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