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Mostrando postagens com o rótulo Vinícius de Moraes

Conto carioca

          O rapaz vinha passando num Cadillac novo pela Avenida Atlântica. Vinha despreocupado, assoviando um blue , os olhos esquecidos no asfalto em retração. A noite era longa, alta e esférica, cheia de uma paz talvez macabra, mas o rapaz nada sentia. Ganhara o bastante na roleta para resolver a despesa do cassino, o que lhe dava essa sensação de comando do homem que paga: porque tratava-se de um "duro", e era o automóvel o carro paterno, obtido depois de uma promessa de fazer força nos estudos. O show estivera agradável e ele flertara com quase todas as mulheres da sua mesa. A lua imobilizava-se no céu, imparticipante, clareando a cabeleira das ondas que rugiam, mas como que em silêncio.               De súbito, em frente ao Lido, uma mulher sentada num banco. Uma mulher de branco, o rosto envolto num véu branco, e tão elegante e bonita, meu Deus, que parecia também, em s...

Soneto a quatro mãos

(com Paulo Mendes Campos) Tudo de amor que existe em mim foi dado. Tudo que fala em mim de amor foi dito. Do nada em mim o amor fez o infinito Que por muito tornou-me escravizado. Tão pródigo de amor fiquei coitado Tão fácil para amar fiquei proscrito. Cada voto que fiz ergueu-se em grito Contra o meu próprio dar demasiado. Tenho dado de amor mais que coubesse Nesse meu pobre coração humano Desse eterno amor meu antes não desse. Pois se por tanto dar me fiz engano Melhor fora que desse e recebesse Para viver da vida o amor sem dano MORAES, Vinícius de. Livro de sonetos . São Paulo: Companhia das Letras, 1991. P. 155.   Leia o poema de Vinícius de Moraes e atente para os aspectos que caracteriza o gênero lírico. 1. Qual dos seguintes termos não remete ao estado emocional da voz que se enuncia no texto? a) Escravizado b) Desejoso c) Animado d) Proscrito 2. Ao ler o texto, percebe-se um sentimento marcado por um...