O riso - Nelson Rodrigues
Eis a verdade: — o que sustenta, o que nutre, o que dinamiza o futebol é a vaidade. Vejamos o juiz. É um crucificado vitalício. Seja ele o próprio Abrahão Lincoln, o próprio Robespierre, e a massa ignara e ululante o chamará de gatuno. Dirá alguém que ele percebe um bom salário. Nem assim, nem assim. Não há dinheiro que o compense e redima, nenhum ordenado que o lave, que o purifique. E, no entanto, ele não renuncia às suas funções nem por um decreto. Pergunto: — por que esta obstinação? Amigos, a vaidade o encouraça, a vaidade o torna inexpugnável, a vaidade o ensurdece para as 200 mil bocas que urram: — “Ladrão! Ladrão! Ladrão!”. O mesmo acontece com o craque, com o paredro, com o técnico. O futebol os projeta e pendura nas manchetes, e esta publicidade histérica constitui uma delícia suprema. E ninguém é modesto, ninguém. Qualquer jogador, ou q...