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Psicologia de um vencido

Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Produndissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme — este operário das ruínas — Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! ANJOS, Augusto dos. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1998. p. 56. 1. Assinale a alternativa em que se apresenta um aspecto de que um parnasiano convicto criticaria, ao ler esse poema. a) Organização do texto em forma de soneto. b) Emprego de rimas, inclusive do tipo preciosa. c) Presenças de palavras julgadas antipoéticas. d) Preocupação com a métrica do poema. 2. Estão ...

Solitário - Augusto dos Anjos

Como um fantasma que se refugia Na solidão da natureza morta, Por trás dos ermos túmulos, um dia, Eu fui refugiar-me à tua porta! Fazia frio e o frio que fazia Não era esse que a carne nos conforta Cortava assim como em carniçaria O aço das facas incisivas corta! Mas tu não vieste ver minha Desgraça! E eu saí, como quem tudo repele, — Velho caixão a carregar destroços — Levando apenas na tumba carcaça O pergaminho singular da pele E o chocalho fatídico dos ossos! ANJOS, Augusto dos. Eu e Outras Poesias. Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1998. p. 75. 1. Explique de que maneira a linguagem do texto distancia-se da estética parnasiana. 2. O eu lírico encontra consolo para sua solidão? Comprove sua resposta com elementos do texto. Gabarito: 1. Utiliza-se palavras consideradas pouco poéticas, como fantasma, túmulo, carniçaria, caixão, carcaça, etc., as quais seriam certamente rejeitadas pelos parnasianos. 2. A re...