Postagens

Mostrando postagens com o rótulo Poema.

O capoeira - Oswald de Andrade

— Qué apanhá sordado? — O quê? — Qué apanhá? Pernas e cabeças na calçada.

Nomes de Gente

Imagem
Tem muito nome de gente Muito significado Prudêncio que é prudente Tito que é honrado Hugo que é previdente Reinaldo que é ousado Tem muito nome de gente Muito significado Tem muito nome de gente Que é nome de bicho Tem jonas que é pombo E raquel que é ovelha E tem leon Que quer dizer leão Com nome de bicho Tem uma porção Ataulfo é nobre-lobo Arnaldo, águia potente Arnulfo é águia e lobo Arlindo, águia e serpente Leandro, homem-leão Leonardo é leão forte Catulo, um pequeno cão Bernardo é urso forte Tem muita gente com nome de flor... Tem mesmo: tem violeta, tem rosa Tem cravo, camélia, dália e jasmim... E tem carmem que quer dizer jardim. Dulce quer dizer que é doce Lia, que é trabalhadora Olga, que é nobre moça Berenice, a vencedora Bárbara é estrangeira Estela, que é estrela No meio de tantas belas É vera que é verdadeira Tem muito nome por causa do tempo Nomes por causa da hora e do mês É sim, tem nome que lembra o momento Lembra o dia...

Poema de Natal - Vinícius de Moraes

Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados, Para chorar e fazer chorar, Para enterrar os nossos mortos - Por isso temos braços longos para os adeuses, Mãos para colher o que foi dado, Dedos para cavar a terra. Assim será a nossa vida; Uma tarde sempre a esquecer, Uma estrêla a se apagar na treva, Um caminho entre dois túmulos - Por isso precisamos velar, Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito que dizer: Uma canção sôbre um berço, Um verso, talvez, de amor, Uma prece por quem se vai - Mas que essa hora não esqueça E que por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre, Para a participação da poesia, Para ver a face da morte - De repente, nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte apenas Nascemos, imensamente.

Soneto de separação - Vinícius de Moraes

De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto De repente da calma fez-se o vento Que dos olhos desfez a última chama E da paixão fez-se o pressentimento E do momento imóvel fez-se o drama De repente não mais que de repente Fez-se de triste o que se fez amante E de sozinho o que se fez contente Fez-se do amigo próximo, distante Fez-se da vida uma aventura errante De repente, não mais que de repente.