A lamentação (1495)
Sandro
Botticelli (Florença, 1445-1510)
Têmpera
sobre madeira – 107 cm x 71 cm
Museu
Poldi Pezzoli
Milão,
Itália
A
figura de Cristo morto é o centro da atenção do espectador, reforçada pela
coloração esbranquiçada do corpo de Jesus e do sudário. A virgem se esforça
para segurar o filho, acalentada por São João Batista. Atrás deles, José de
Arimatéia eleva os olhos ao céu; nas mãos, os instrumentos da Paixão. Duas
virtuosas mulheres choram a perda do Salvador, enquanto Madalena acaricia os
pés de Cristo. Os personagens se destacam sobre um fundo quase neutro, em que
se vê apenas uma estrutura em forma de arco cuja parte superior é reta; ocupam
toda a cena, lembrando o típico horror
vacui (horror ao vazio) do estilo gótico. A anatomia de cada personagem
perde importância debaixo das volumosas roupas, sem que se perca, no entanto, a
grandiosidade característica das figuras de Botticelli. A grande novidade das
obras do pintor a partir da década de 1490 é a expressividade dos personagens, com
destaque para os gestos dos protagonistas. Isso elimina certa frieza que
caracteriza algumas obras anteriores, com Primavera
ou O Retábulo Bardi. Ao mesmo tempo,
Botticelli toma contato com o trabalho de Donato Cionni, seguidor devoto de
Savonarola – padre dominicano que pregava a Reforma Religiosa – e amigo de
diversos clérigos. Em 1495, Cionni encomenda a Botticelli essa tela. A essa altura,
porém, o próprio pintor já havia se comovido com os sermões “reformistas” da
época, o que acabou conferindo à sua produção um certo ascetismo, como se pode
apreciar nesse belo trabalho.
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