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Mostrando postagens de abril, 2017

O pintor da burguesia

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A Mulher de Azul Lendo uma Carta (c.1662) Apesar da importância de suas pinturas, a vida de Vermeer é pouco conhecida. Assim, o quadro O Estúdio do Artista é bem representativo, uma vez que a enigmática figura de costas, como vemos no detalhe da foto acima, pode sugerir ser o próprio pintor ou uma homenagem aos artistas em geral. Vermeer mantinha um vínculo estreito com o pintor Bramer. Foi graças a ele que Vermeer conseguiu autorização de Maria Thins para se casar com Catharina Bolnes, em 1963. Thins, a sogra, não aceitava o matrimônio, uma vez que o pintor era calvinista, e a noiva católica. Depois de casados, os jovens se mudaram para a casa de Thins, que tinha uma situação econômica excelente. A família foi abençoada com quinze filhos, dos quais onze sobreviveram. E, nesse ponto, a ajuda da avó materna foi fundamental. Embora Vermeer fosse conhecido como pintor, sua obra não era valorizada; além disso, ele produzia a passos lentos: levava até seis meses para terminar uma te...

A rendeira (1665-1668)

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Vermeer. Óleo sobre tela - 24 cm x 21 cm Museu do Louvre. Paris, França         Por mais simples que pareça as cenas de Vermeer, há sempre um ensinamento moral a ser apreendido, seja por meio do exemplo positivo, seja por meio do negativo. Segundo os princípios protestantes, a mulher devia levar uma vida dedicada ao trabalho no lar e à família. Neste casso, a protagonista está bordando, totalmente alheia ao mundo exterior. As atividades têxteis eram tarefas exclusivamente femininas, tal como pregavam os provérbios de Salomão (31,32), leitura obrigatória naquela época em que se elogiavam as virtudes da mulher que soubesse tecer e costurar. Nesta tela, a rendeira se mostra totalmente concentrada em seu trabalho, e não olha o espectador, ao contrário do que acontece em outras obras do pintor. A mesa coberta com um tapete escuro, sobre o qual descansa um travesseiro, faz as vezes de barreira e protege a moça dos olhares mal-intencionados: seu mundo interior é ...

A Leiteira (1658-1660)

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Johannes Vermeer (Países Baixos, 1632-1675) Óleo sobre tela – 45,5 cm x 41 cm Rijksmuseum. Amsterdã, Holanda           Este é um dos poucos quadros de Vermeer em que a mulher é apresentada de forma positiva, tal como acontece em A Rendeira (1665-1668). Normalmente, as mulheres que cuidavam dos serviços domésticos eram retratadas como preguiçosas ou bêbedas, mostrando as consequências dos vícios. Já a protagonista desta tela manifesta a simplicidade da mulher virtuosa, apontada também pelos outros elementos que completam a cena. O leite, símbolo de pureza, e os pedaços de pão cortados sobre a mesa, representando Cristo, constituem sinais inequívocos de virtude. O quarto é muito simples, conta apenas com o indispensável. Ao que parece, isso foi realmente intencional. A partir de estudos realizados com raios X, pôde se comprovar que o pintor cobriu um mapa que decorava a parede do fundo da cena. A harmonia que se desprende desta tela se deve à camada...

A pintura como ciência

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           Pontilhismo, neoimpressionismo, divisionismo. Os críticos não conseguiam chegar a um acordo sobre o melhor termo para definir o estilo da surpreendente obra intitulada, Uma Tarde de Domingo na Ilha da Gande Jatte , apresentada pelo jovem pinto Georges Seurat na oitava mostra impressionista de 1886. A técnica criada por Seurat, que ele mesmo, mais tarde, chamaria de cromoluminarsimo , tentou reconciliar a pintura e a ciência. O resultado no foi apenas fruto de sua inspiração, mas também de um estudo metódico da teoria da óptica e da cor publicadas até então. Entre as obras mais consultadas pelo jovem pintor destacam-se: As Leis do Contraste Simultâneo das Cores e seu Emprego na Arte mediante Círculos de Cor , de Eugène Chevreul; Modern Chromatics , de Odgen Nicholas Rood; além da série de artigos Os Fenômenos da Visão , publicados na revista L’Art. Para ajuda-lo no estudo dessas obras, Seurat contou com o auxílio de seu amigo Charles Henry, ...

Neve, Boulevard de Clichy (1886)

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Paul Signac (1863-1935) Óleo sobre tela – 46, 5 cm x 65,5 cm Instituto de Arte de Minneapolis Minneapolis, Estados Unidos             É fato que Signac não aplicou o divisionismo em suas primeiras obras, de conotação principalmente impressionista. Neve, Boulevard de Clichy , porém, é uma das telas do artista que combina os dois estilos. Neve, Boulevard de Clichy era muito familiar para o pintor, já que seu estúdio ficava a poucos metros dali. Como consequência da pintura impressionista en plein air (ao ar livre), a paisagem urbana ganhou importância e, neste caso, Signac pintou a rua logo após uma nevasca. Pode-se observar, porém, que a superfície é inteiramente construída a partir de pontos de cor justapostos, à moda divisionista. Um exemplo é o prédio avermelhado à direita. Para compor a neve branca, o artista investiu em diminutos pontos azuis, ocre, brancos e vermelhos. A figura humana, como se po...

Vista Panorâmica de Auvers (1874)

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Paul Cézanne (1839-1906) Óleo sobre tela – 65 cm x 81 cm Instituto de Arte de Chicago Chicago, Estados Unidos             Assim que chegou a Paris, Cézanne conheceu Camille Pissarro, e os dois logo se tornaram amigos. Graça a essa amizade, Cézanne se interessou pela temática da paisagem, desenvolvendo inicialmente uma técnica mais ou menos impressionista. Foi assim que nasceu esta Vista Panorâmica de Auvers , na qual o pintor se dedicou mais à construção organizada das casas que o estudo de luz – um anúncio do que seria posteriormente sua forma de trabalhar. Além das cores, empregadas com excepcional maestria, as rápidas pinceladas, que às vezes cedem lugar à espátula, caracterizam toda a sua obra. No início da década de 1870, Cézanne estabeleceu uma relação direta com Delacroix, uma de suas primeiras referências pictóricas. Pouco a pouco, porém abandonou todo o romantismo do amigo, até dar o primeiro pa...

Trocas de influências com Émile Zola

          O grande escritor francês Émile Zola teve forte influência sobre Paul Cézanne desde o início da carreira de pintor, quando o incentivou a se mudar para Paris, a fim de estudar na escola de Belas-Artes. Amigos na infância, pintor e escritor trocaram experiências artísticas. Em 1867, Cézanne se inspirou em dos primeiros escritos de Zola e pintou O Estupro . Em 1886, foi a vez de o escritor se inspirar no amigo e escrever A Obra , cujo personagem Claude Lentier, um artista frustrado que termina se matando diante de sua obra inacabada por não suportar a angústia de um talento não-realizado. Cézanne não gostou da comparação e rompeu definitivamente com Zola, por meio de uma carta breve e seca. Eles haviam se conhecido em 1852, em Aixen-Provence, no prestigioso Collège Bourbon. Bons alunos, Cézanne tinha 13 anos, ao passo que Zola era um pouco mais jovem; costumavam conversar sobre arte, literatura e poesia e, paradoxalmente, Zola se dedicava bastante ao d...

O Circo (1891)

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Georges Seurat (França, 1850-1891) Óleo sobre tela – 187,5 cm x 152,5 cm Museu d’Orsay Paris, França                 Assim como muitos de seus contemporâneos, Seurat também buscou inspiração nas sessões do circo Medrano, cujo resultado é esta belíssima obra. Na época, o circo era um lugar tão visitado pela boêmia parisiense quanto os cafés-concertos. Não é de se estanhar, portanto, que o brilho e o colorido desses circos fossem um dos temas favoritos dos pintores da época. A composição de Seurat é, no entanto, complexa. O pintor dá mais relevância ao aspecto formal do que o tema, que utiliza apenas como pretexto para aplicar a teoria do dinamismo por meio dos opostos: aos atores em movimento febril, voando sobre uma pista circular, opõe-se um público estático, sentado em uma arquibancada. Horizontalmente, o quadro altera listras vermelhas e brancas, permeadas por grandes pontos amarelos e azuis-v...

Divisionismo versus fauvismo

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        Henri Matisse, que mais tarde seria o líder do grupo fauvista, conheceu Signac em uma de suas exposições no Salão dos Independentes. Matisse havia tomado contato com as teorias científicas dos neoimpressionistas por meio dos artigos publicados por Signac na revista francesa de arte e literatura La Revue Blanche. Bastante interessado, procurou Signac e se iniciou na arte do pontilhismo, passando uma temporada na casa do pintor em Saint-Tropez. A primeira obra pontilhista de Matisse – Luxo, Calma e Voluptuosidade – veio a público em 1904. Signac percebeu que o amigo havia utilizado o método com total liberdade. Para os adeptos do pontilhismo, os minúsculos pontos são confundidos a distância, mas tornam-se evidentes à medida que o apreciador se aproxima. Às vezes, esses pontos transformam-se em linhas que servem de contorno. Os pontos de cor encontram-se mais separados, e o tema tinha mais importância que nas telas propriamente pontilhistas. Pode-se dize...

A lamentação (1495)

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Sandro Botticelli (Florença, 1445-1510) Têmpera sobre madeira – 107 cm x 71 cm Museu Poldi Pezzoli Milão, Itália             A figura de Cristo morto é o centro da atenção do espectador, reforçada pela coloração esbranquiçada do corpo de Jesus e do sudário. A virgem se esforça para segurar o filho, acalentada por São João Batista. Atrás deles, José de Arimatéia eleva os olhos ao céu; nas mãos, os instrumentos da Paixão. Duas virtuosas mulheres choram a perda do Salvador, enquanto Madalena acaricia os pés de Cristo. Os personagens se destacam sobre um fundo quase neutro, em que se vê apenas uma estrutura em forma de arco cuja parte superior é reta; ocupam toda a cena, lembrando o típico horror vacui (horror ao vazio) do estilo gótico. A anatomia de cada personagem perde importância debaixo das volumosas roupas, sem que se perca, no entanto, a grandiosidade característica das figuras de Botticelli. A grande novida...

Longe de Florença apenas duas vezes

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           Sandro Botticelli saiu de Florença somente duas vezes em sua vida. Em 1473, foi a Pisa cumprir uma encomenda que acabou cancelada e, entre 1481 e 1482, trabalhou em Roma. O convite partiu do papa Sisto IV, depois da malograda conspiração para derrubar Lourenço, o Magnífico. Para estabelecer boas relações com os Medice, a quem quisera destruir, Sisto IV convidou artistas de Florença a participarem da decoração da recém-criada Capela Sistina, no Palácio do Vaticano. Construída entre 1475 e 1481, a capela levou o nome de Sistina em homenagem ao papa, Michelangelo pintaria o teto, que começou em 1508 é só foi terminar no dia de Finados de 1512, obra considerada pelos historiadores da Arte como um marco definitivo do espírito da Renascença. O contrato com os artistas florentinos para a realização das pinturas foi firmado em 27 de outubro de 1481. Botticelli pintou três afrescos no Vaticano: As Provações de Moisés, A Tentação de Cristo e A Puniç...