Uma amizade que vem de longe
É uma
amizade que vem de longe: há 7 mil anos, o cão já acompanhava o homem nas
caçadas. Este – agradecido – desenhou uma a cena nas paredes de sua caverna.
Mais tarde, no Egito dos faraós, cães aparecem pintados em templos e túmulos.
Monumentos assírios de 600 anos antes de Cristo mostram cães amestrados
perseguindo outros animais. Gregos e romanos utilizava-nos em suas guerras,
equipando as coleiras com pontas de ferro. E, do outro lado do oceano, os
índios da América do Sul tinham cães de estimação antes que o primeiro europeu
aqui chegasse.
De tão
intensa e persistente amizade, o homem antigo fabricou mitos, crença e rituais
mágicos: durante muito tempo e em várias partes do mundo, acreditou-se que alma
de cachorro tinha a mesma essência que a dos seres humanos, de modo que –
pensou-se – que uma podia muito bem substituir a outra. Mito elogioso, porém
ingrato para o pobre cão: os índios peles-vermelhas da tribo kansas comiam “o
melhor amigo do homem”, certos de que era a receita ideal para se tornarem
guerreiros bravos e corajosos. E os huancas, do Peru, reserva o cão para o
cardápio do dia de festa, quando ocorriam as mais importantes solenidades
religiosas.
Em
Epidaura, Grécia, no século XIV antes a.C., diziam os doutos que bastava um cão
lamber um dente que este ficaria curado (mas não podia ser um cachorro
qualquer; tinha de ser um dos dedicados a Esculápio, deus da Medicina). E
Hipócrates, o maior médico da antiguidade, afirmava do alto de sua sabedoria
que tuberculose se cura em dois tempos se o enfermo seguir uma dieta de carne
canina. Hipócrates estava enganado, mas não se enganaram os que viram no cão um
ótimo guia para cegos. Tampouco se enganaram os cientistas de nossos dias.
Desejavam estudar os efeitos da imponderabilidade no espaço sobre um organismo.
Escolheram então entre todos os seres vivos – uma cadela, remetendo-a ao
cosmos. Laika subiu a 3 de novembro de 1957, a bordo do satélite artificial
soviético “Sputnik II”. Ficou sete dias, foi recuperada viva e os especialistas
puderam obter as valiosas informações de que necessitavam para as suas
pesquisas.
Conhecer. Editora Abril S. A.
Cultural e Industrial, São Paulo, 1973.
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