Ritmo de Pilão – António Nunes
Bate,
pilão, bate,
que o
teu som é o mesmo
desde o
tempo dos navios negreiros,
de
morgados,
das
casas-grandes,
e
meninos ouvindo a negra escrava
contando
histórias de florestas,
de bichos, de encantadas...
Bate,
pilão, bate
que o
teu som é o mesmo
e a
casa-grande perdeu-se,
o
branco deu aos negros cartas de alforria
mas
eles ficaram presos a terra por raízes
de suor...
Bate,
pilão, bate
que o
teu som é o mesmo
desde o
tempo antigo
dos
navios negreiros...
(Ai os
sonhos perdidos lá longe!
Ai o
grito saído do fundo de nos todos
ecoando
nos vales e nos montes,
transpondo
tudo...
Grito
que nos ficou de traços de chicote,
da luta
dia a dia,
e que
em canções se reflecte, tristes...)
Bate,
pilão, bate
que o
teu som é o mesmo
e em
nosso músculo está
nossa
vida de hoje
feita
de revoltas!
Bate,
pilão, bate!...
António
Nunes (Cabo Verde)
In No reino de Caliban. p. 131.
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