LIRA XIX

Tomás Antônio Gonzaga (1792)

Enquanto pasta, alegre, o manso gado,
Minha bela Marília, nos sentemos
à sombra deste cedro levantado.
Um pouco meditemos
na regular beleza,
que em tudo quanto vive nos descobre
a sábia Natureza.

Atende, como aquela vaca preta
o novilhinho seu dos mais separa,
e o lambe, enquanto chupa a lisa teta.
Atende mais, ó cara,
como a ruiva cadela
suporta que lhe morda o filho o corpo,
e salte em cima dela.

Repara como, cheia de ternura,
entre as asas ao filho essa ave aquenta,
como aquela esgravata a terra dura,
e os seus assim sustenta;
como se encoleriza,
e salta sem receio a todo o vulto,
que junto deles pisa.

Que gosto não terá a esposa amante,
quando der ao filhinho o peito brando
e refletir então no seu semblante!
Quando, Marília, quando
disser consigo: “É esta
de teu querido pai a mesma barba,
a mesma boca e testa.”[...]

Que prazer não terão os pais, ao verem
com as mães um dos filhos abraçados;
jogar outros a luta, outros correrem
nos cordeiros montados!
Que estado de ventura!
que até naquilo, que de peso serve,
inspira Amor, doçura!

GONZAGA, Tomás Antônio. Obras completas. ed. crít. M, Rodrigues Lapa. São Paulo: Editora Nacional, 1942. (Livros do Brasil, 5)

1. Na canção “De mais ninguém”, o amor está associado à dor. Nesse texto de Gonzaga, o amor só não está associado a
a) Equilíbrio
b) Melancolia
c) Placidez
d) Serenidade

2. A atitude de eu lírico diante da natureza é de

a) Embate intimista
b) Confidência angustiada
c) Observação contemplativa
d) Individualismo exagerado

Resolução
1. = B

2. = C

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