O Olhar que Mata
Na cidade de Argos, há uma
torre de bronze com janelas que têm grossas barras. Nessa sombria prisão,
Dânae, filha do rei Acrísio, chora amargamente. É que seu pai, temendo ser
morto pelo filho que um dia ela poderia vir a ter, resolve prendê-la ali por
toda a vida. Aprisionado a filha longe de qualquer contato humano, o rei espera
evitar esse destino, profetizado por um oráculo.
No entanto, certa noite uma chuva de ouro começa a cair,
gota a gota, por entre as grades das janelas. É Zeus, que, transformado dessa
forma, penetra no quarto da princesa. Está apaixonado por ela, e nada
conseguiria deter o rei dos deuses. Nem mesmo paredes de bronze.
Alguns meses depois, Dânae dá a luz um filho, Perseu. Ao
saber disso, Acrísio fica enlouquecido de raiva, mas não mata filha e neto.
Prefere fechá-los numa grande caixa de madeira, que manda jogar ao mar.
Durante dias e dias, os coitados flutuam à deriva. Até
que, ao largo da ilha de Sefiro, um pescador chamado Díctis percebe a curiosa
embarcação. Ele liberta Dânae e o filho e leva-os ao rei da ilha, Polidectes,
que resolve proteger os exilados.
Os anos passam. Perseu transforma-se num rapaz forte e
corajoso, que perturba os planos de Polidectes de casar-se à força com Dânae. O
rei da ilha, para ficar livre do filho de sua amada ordena-lhe que traga ao
palácio a cabeça da górgona Medusa.
Esta é um monstro terrível: sua cabeleira formada por
serpentes embaraçadas, seus dentes compridos e sua língua pendente dão-lhe
aspecto assustador. Mas, além disso, há coisa muito pior: o olhar de Medusa
transforma em pedra todos os que têm a audácia ou a imprudência de olhá-la. Ao
mandar Perseu lutar contra a górgona. Polidectes está condenando-o a uma morte
certa. Isso se os deuses não interviessem...
Atena, a pior inimiga de Medusa, resolve ajudar Perseu em
sua aventura e oferece-lhe um escudo brilhante, parecido com um espelho. Hermes
dá-lhe uma foice afiada e ajuda-o a obter sandálias aladas e o capacete de
Hades, que torna invisível quem o usa. Assim equipado, Perseu parte para o
Ocidente, onde vive a temível górgona.
O herói encontra uma paisagem macabra e desolada. Nenhum
pássaro canta, nenhum ser vivo se move naquele deserto árido, semeado de
estátuas de todos os infelizes já petrificados por Medusa. Caminhando com
prudência, Perseu aproxima-se da górgona, tentando não olhar diretamente para
ela. O rapaz fixa os olhos no escudo de Atena e guia-se pelo reflexo da
criatura. Em poucos instantes, chega bem perto da górgona, em cuja cabeça as
serpentes agitam-se e silvam. Com um único golpe de foice, Perseu decapita
Medusa, agarra-lhe a cabeça sem olhá-la e foge com ela metida numa sacola de
pano, dessas que os mendigos carregam.
Do pescoço cortado nascem Pégaso, o cavalo alado, e
Crisaor, o guerreiro da espada de ouro. Perseu, embora perseguido pelas irmãs
de Medusa, consegue fugir, graças ao capacete que o torna invisível e à
velocidade que lhe dão suas sandálias aladas.
No caminho de volta, o herói detém-se na Etiópia,
governada pelo rei Cefeu, cujas terras estão cobertas por um dilúvio e
devastadas por um monstro marinho. Para interromper esse flagelo, o deus do mar
exige que o rei sacrifique sua filha, Andrômeda, dando-a de comer ao horrível
animal. Quando Perseu lá chega, a primeira coisa que vê é a deslumbrante
Andrômeda, amarrada a um rochedo fustigado pelas ondas furiosas. O herói
apresenta-se ao rei e propõe salvar sua filha sob a condição de depois casar-se
com ela e levá-la para a Grécia. Cefeu, que adora Andrômeda, concorda.
Sem hesitar, Perseu alça voo e lança-se ao combate.
Ziguezagueando em volta do animal, consegue enganá-lo e, de surpresa, corta-lhe
a cabeça com um golpe da foice. Imediatamente, liberta Andrômeda que se joga
nos braços de seu belo salvador. Mas, quando vê que a filha está salva, Cefeu
já não tem nenhuma intenção de cumprir sua promessa. Como Andrômeda insiste, o
rei manda preparar a festa de casamento. Só que, ao mesmo tempo, organiza uma
conspiração para assassinar Perseu.
O início da festa é interrompido pela chegada de um grupo
de homens armados. É uma tropa contratada por Cefeu, o qual, por achar que um
homem sozinho não pode enfrentar o herói, preferiu recorrer a um pequeno
exército. Com muita coragem, Perseu começa a lutar e liquida muitos
adversários. Mas, quando se vê sozinho diante de duzentos inimigos, logo
percebe que a derrota é certa. Então, fecha os olhos e tira de dentro da sacola
a cabeça de Medusa. Num instante, o exército inteiro transforma-se em pedra. E
Perseu, acompanhado de Andrômeda, pode voltar para Sefiro. Quando lá chega,
descobre que sua mãe e o pescador Díctis, aterrorizados pelo tirano Polidectes,
tiveram de refugiar-se num templo. Furioso, Perseu dirige-se ao palácio, onde
encontra o rei no meio de um banquete com os amigos.
Ao verem Perseu vivo, todos começam a xingá-lo e a zombar
dele. Quando diz Ter matado Medusa, eles riem, incrédulos. Então, Perseu olha
para o lado e tira da sacola a horrível cabeça. O malvado rei e seus odiosos
convidados imediatamente viram pedra.
O herói deixa com Díctis o trono de Sefiro e volta com
Dânae e Andrômeda para Argos. Lá, resolve participar dos jogos atléticos que
estão sendo realizados. No lançamento de disco, ele arremessa com muita força
esse pesado objeto de metal. E então, seja pela mudança do vento, seja pela
vontade dos deuses, o disco descia-se de seu rumo e atinge um espectador:
Acrísio, o avô de Perseu.
A previsão do oráculo se cumpriu.
Desolado, Perseu não quer suceder o avô. Recusa o trono
de Argos, trocando-o pelo de Tirinto, cidade que, sob seu governo, conhecerá a
paz e a prosperidade.
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