Alô! Tem alguém na escuta?
Emoções hollywoodianas à
parte, a busca por inteligências extraterrestres é um assunto levado a sério
por muitos cientistas. Tudo começou em 1960, quando o jovem astrônomo Frank
Drake convenceu seu chefe, no Observatório de Radioastronomia de Green Bank, em
West Virginia, nos EUA, a gastar US$ 2.000 em um novo equipamento para o
radiotelescópio. A ideia de Drake era equipar o telescópio com um receptor
dedicado à busca de sinais de rádio gerados por seres inteligentes, que
hipoteticamente habitam outras partes do Universo. O projeto foi aprovado na
hora.
Passados 38 anos, a Seti (sigla em inglês para Busca por
Inteligências Extraterrestres) continua firme, apesar da falta de fundos, dos
resultados até agora negativos e da incredulidade de muitos. Na verdade, o
número de observatórios e pesquisadores envolvidos na Seti só tem aumentado nos
EUA e em diversos países.
Como procurar por transmissões de rádio
"inteligentes" provenientes de outra civilização? A busca por sinais
de rádio inteligentes está concentrada em uma determinada banda de frequência,
tipicamente de 1.400 megahertz a 1.720 megahertz, como é o caso do projeto
Beta, da Universidade Harvard. A escolha da banda vem da frequência natural do
átomo de hidrogênio, de 1.420 megahertz. Como o hidrogênio é o elemento mais abundante
no Universo, essa seria a frequência "mais natural" a ser escolhida.
Será?
O receptor do radiotelescópio tem 250 milhões de canais
cobrindo essa banda de frequência, ou seja, uma resolução em torno de 1,3 hertz
por canal. A quantidade de dados acumulados diariamente chega a ocupar 22
milhões de megabites de memória, posteriormente "filtrados" por um
supercomputador, que seleciona possíveis sinais interessantes. Um dos problemas
com a Seti é definir quais sinais são resultado de uma transmissão inteligente.
O financiamento para esse projeto (e outros) vem da
Sociedade Planetária, uma entidade privada que conta hoje com mais de 100 mil
membros, fundada por Carl Sagan, um entusiasta da busca pela vida
extraterrestre. No seu livro "Contato", que recentemente virou filme
de enorme (e merecido) sucesso, Sagan conta a história de um contato hipotético
com uma civilização muito mais avançada do que a nossa, por meio de ondas de
rádio, numa jogada magistral de divulgação e de publicidade para sua organização.
Para Sagan, a busca por civilizações extraterrestres é algo que fala a cada um
de nós e não deve depender das flutuações na orientação da política científica
do governo norte-americano.
Os que acreditam na existência de vida inteligente fora
da Terra citam os grandes números: com bilhões de estrelas só na nossa galáxia,
certamente muitos milhões terão planetas à sua volta com condições semelhantes
às encontradas aqui. E desses, muitos terão favorecido a evolução de vida
inteligente. Já para os descrentes (na maioria biólogos), o processo
evolucionário que leva ao desenvolvimento de vida inteligente é tão
absurdamente raro que nós somos a exceção e não a regra. Caso isso seja
verdade, nós ocuparíamos um lugar sem dúvida muito privilegiado no Universo, o
de única civilização inteligente. Privilegiado e profundamente solitário.
Mas vamos supor que
recebamos uma mensagem de uma civilização que habite um planeta localizado a 20
anos-luz do Sol. Essa mensagem nos foi enviada há 20 anos. Como nós acabamos de
inventar o rádio, certamente nossos interlocutores serão mais avançados do que
nós. Será que devemos responder à sua chamada? Afinal, em uma floresta cheia de
perigos desconhecidos, podemos ficar apenas na escuta. Por outro lado, seria
impossível resistir à tentação de nos comunicarmos com outros seres
inteligentes. Enquanto nós decidimos, nossos radiotelescópios continuam a
vasculhar os céus. Será que tem alguém na escuta?
Marcelo Gleiser, Folha de S. Paulo, junho/98
Comentários
Postar um comentário