Fagundes Varela (1841-1875)
Luís Nicolau Varela
nasceu na Fazenda Santa Rita, em Rio Claro (RJ). Em 1859, transferiu-se para
São Paulo, mas só conseguiu ingressar na Faculdade de Direito em 1862. Influenciado
pelos últimos suspiros do “byronismo” estudantil paulistano, dedica-se à boêmia
e à bebida, atraído constantemente pela marginalidade. A morte de seu primeiro
filho inspira-lhe seu mais conhecido poema, Cântico
do Calvário. Tenta concluir o curso de direito em Recife, mas a morte da
esposa o faz retornar de São Paulo. Abandona, então, a faculdade e retorna à
fazenda onde nascera, continuando a escrever poesia. Casando-se outra vez,
muda-se para Niterói, onde se entrega à bebida e vem a falecer, já em estado de
completo desequilíbrio mental.
A Flor do maracujá
Pelas
rosas, pelos lírios,
Pelas
abelhas, sinhá,
Pelas
notas mais chorosas
Do
canto do sabiá,
Pelo
cálice de angústias
Da
flor do maracujá!
Pelo
jasmim, pelo goivo,
Pelo
agreste manacá,
Pelas
gotas do sereno
Nas
folhas de gravatá,
Pela
coroa de espinhos
Da
flor do maracujá!
Pelas
tranças da mãe-d'água
Que
junto da fonte está,
Pelos
colibris que brincam
Nas
alvas plumas do ubá,
Pelos
cravos desenhados
Na
flor do maracujá!
Pelas
azuis borboletas
Que
descem do Panamá,
Pelos
tesouros ocultos
Nas
minas do Sincorá,
Pelas
chagas roxeadas
Da
flor do maracujá!
Pelo
mar, pelo deserto,
Pelas
montanhas, sinhá!
Pelas
florestas imensas
Que
falam de Jeová!
Pela
lança ensanguentada
Da
flor do maracujá!
Por
tudo o que o céu revela!
Por
tudo o que a terra dá
Eu
te juro que minh'alma
De
tua alma escrava está!...
Guarda
contigo esse emblema
Da
flor do maracujá!
Não
se enojem teus ouvidos
De
tantas rimas em — a —
Mas
ouve meus juramentos,
Meus
cantos ouve, sinhá!
Te
peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
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