Renoir – um mestre valorizado em vida

Uma viagem definitiva
 


 Dança em Bougival (1883).
Óleo sobre tela – 179 cm x 96 cm.
Museu de Belas Artes, Boston,
Estados Unidos.




            Mesmo considerado um dos grandes representantes do Impressionismo, Renoir não pertenceu apenas a esse movimento. Na verdade, nunca esteve ligado a um estilo único. Criou uma forma própria de ver e traduzir para as telas a vida europeia que fervia ao seu redor. Quando chegou a Paris, com pouco mais de 20 anos, não aderiu ao estilo clássico, mas também não sentiu necessidade de buscar novas formas de expressão artística; visitava o Museu do Louvre para reproduzir obras de mestres da pintura.
            No entanto, o convívio com os pintores que viriam a formar o grupo de impressionistas foi despertando em Renoir a contida vontade de falar sobre o mundo de forma diferente. Herdou de Monet o interesse pelas paisagens. Ficou fascinado com o trabalho realista de Coubert, então considerado um corruptor dos jovens por causa de seus audaciosos quadros, e passou a admirar Picasso. É nessa época que decide pintar a natureza e começa a mostrar o que era, em sua opinião, a função do artista: refletir na tela momentos de fugaz beleza da vida. Nessa época, seus trabalhos, muitos realizados na floresta de Fontainebleau, eram ricos em traços curtos que intercalavam nuanças de luz e cor. A luz solar aparecia como elemento predominante. Para os impressionistas, o contorno rígido dos objetos retratados pelos acadêmicos contradizia a ação deformante da luz. Apesar de grande identificação com os pintores impressionistas, Renoir não se definia como um revolucionário. Diferentemente de Monet, por exemplo, aos poucos foi incorporado ao seu trabalho outros temas, além de paisagens, como nus artísticos, momentos do cotidiano e retratos. Isso passou a diferenciá-lo dos amigos impressionistas, que praticamente ignoravam a figura humana posada. Essa relação ficou muito mais clara e definida para Renoir depois de sua viagem à Itália, em 1881, onde ficou profundamente fascinado com as obras de Rafael. O modo impressionista de conceber e representar a pintura pareceu-lhe, então, insuficiente. Renoir entrava no período determinado “seco”, em que passou a se dedicar à gravura e à escultura, embora não abandonasse os pincéis. Começa a deixar de lado a necessidade de colocar a ação da luz em primeiro lugar, como ainda defendiam os impressionistas, e cada vez mais se distancia desse movimento. Monet chega a dizer ao amigo que a parceria deles terminaria sendo desastrosa para ambos.
            Mesmo assim, Renoir manteve o desenvolvimento de sua nova linha estilística. Já doente, não perdeu o interesse pela arte: continuou a trabalhar com a mesma sensibilidade – a pintura representava para ele algo tão essencial quanto à própria vida.

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