A figura feminina com linha mestra

          
           Banhista sentada (1892)
Óleo sobre tela – 81 cm x 65 cm
Coleção Lehmann. Nova York, Estados Unidos
 
           Observar, por alguns momentos, um quadro de Renoir é o suficiente para inundar-se da forma graciosa, leve e descontraída com que ele via e pintava a vida. “Para mim, um quadro deve ser algo amável, alegre e bonito. Já há na vida um número suficiente de coisas ruins. Para que fabricarmos mais?”, dizia. A figura feminina – presente na maioria de suas obras – representava para Renoir essa tradução do belo, do sutil, do amável.
            No entanto, copiar o corpo e a feição das mulheres para uma tela não abstrata. Elas eram fonte de inspiração para Renoir. Esse laço tornou-se ainda mais forte quando, em 1880, casou-se com a sua modelo Aline Charigot. As mulheres eram, para Renoir, seres exclusivamente animais, que agiam por instinto. Na visão dele, elas não possuíam espírito, intelecto nem consciência dos indivíduos atuante na sociedade. Tudo que Renoir pedia a uma modelo era que “sua pele recebesse bem a luz”. O brilho da pele e os seios eram as duas paixões do pintor. “Se Deus não tivesse criado o colo da mulher, creio que jamais poderia ser pintor”, dizia. Certamente, ele foi um dos maiores amantes da beleza feminina.
            Além de ater-se a essa temática, de forma quase obsessiva, Renoir passa por várias manifestações estilísticas. Namorou os artistas clássicos, não repeliu a pintura de retratos e usou os cenários. Em nenhum momento, contudo, esqueceu-se de que o principal momento pelo qual pintava era retratar suas impressões sobre o mundo, em especial o universo feminino. Nesse sentido, essa era a grande diferença entre ele e os demais impressionistas.
            Sua época foi marcada por muitos “pintores de senhoras”, retratistas de mulheres da alta sociedade. Renoir não foi totalmente contrário ao risco da superficialidade nos quadros que tinham com objetivo garantir o sustento de qualquer artista. Todavia, seus trabalhos sempre foram resultado da observação da realidade, renegando as poses estudadas. Essa busca incessante pela naturalidade é detectada, por exemplo, nas inúmeras obras que mostram alguns dos momentos feministas mais particulares, como o banho. Sobre esse tema, e entre muitas outras obras de nu feminino, Renoir pintouAs Grandes Banhistas, em 1887, tela na qual trabalhou duramente três anos – o que não fez em nenhuma de suas pinturas.
            Apesar de a figura feminina estar presente em todas as fases profissionais de Renoir, o enaltecimento aos atrativos físicos constitui o principal objeto de sua produção artística, principalmente em sua segunda metade de vida. Pode-se dizer que suas obras têm, à primeira vista, um certo ar descompromissado, mas Renoir mantinha a preocupação com o traço completo em relação à forma feminina. “Nunca considero um nu terminado até sentir que posso belisca-lo.”
 

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