Solitário - Augusto dos Anjos

Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!

Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!

Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
— Velho caixão a carregar destroços —

Levando apenas na tumba carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!

ANJOS, Augusto dos. Eu e Outras Poesias.
Rio de Janeiro/Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1998. p. 75.

1. Explique de que maneira a linguagem do texto distancia-se da estética parnasiana.



2. O eu lírico encontra consolo para sua solidão? Comprove sua resposta com elementos do texto.


Gabarito:
1. Utiliza-se palavras consideradas pouco poéticas, como fantasma, túmulo, carniçaria, caixão, carcaça, etc., as quais seriam certamente rejeitadas pelos parnasianos.
2. A resposta é não. O “tu” a quem o eu lírico se dirige não recebe, não vai até ele ver sua desgraça e consolá-lo.

Comentários