Por volta de 2000 a.C., hordas de guerreiros vindos do
nordeste lançaram-se sobre a Grécia. Trata-se de um povo designado “filhos de
Heleno”, “helenos” ou ainda, “aqueus” (termo que significa “o povo dos rios”). Esses
invasores espalham-se por toda a Grécia continental, antes de ocupar as
numerosas ilhas que a rodeiam. Por toda a parte, impõem às populações nativas
seu sistema social e político, seu modo de vida e suas crenças religiosas.
Dessa maneira, constitui-se civilização grega, a Hélade,
que não é uma noção no sentido moderno da palavra, mas um sem-número de cidades
independentes. O que os antigos gregos têm em comum são a língua, o modo de
vida e a religião, traduzida em sua mitologia. Afora esses valores culturais,
tudo os separa, e as guerras entre cidade-estados frequentes.
Nesse país montanhoso, as cidades têm um
centro, a acrópole, que significa cidade “cidade alta”. É uma fortaleza de muralharas
espessas que protege o palácio, as casas dos que vivem em torno do rei e os
templos consagrados às diversas divindades. Do alto de uma cidadela assim, fica
fácil dominar os vales e agir rapidamente em caso de ataques inimigos. A mais
característica acrópole aquéia é a de Micenas. Por isso, os historiadores
denominam esse momento da Idade do Bronze período micênico. Os reis de então
(Agamenon, Aquiles, Ulisses...) são os personagens principais de numerosas
lendas. Muitas vezes, são considerados filho de deuses ou deusas. Protegem o
povo, que, ao pé da acrópole, vivem da agricultura e mora em cabanas.
Depois de instalarem-se na Grécia, os aqueus vão
conquistar as regiões “bárbaras” que os cercavam. Primeiro, defrontam-se com a
brilhante civilização cretense, por volta de 1400 a.C. nesse momento, Creta
dominava o Mediterrâneo oriental e possuía uma cultura refinada. Os helenos destruíram-na.
Mas dela tomaram vários empréstimos. A lenda de Teseu e do Minotauro relata, em
forma de fábula, a conquista de Creta pelos aqueus.
Outra expedição guerreira ilustrada por numerosas lendas e
pelas obras do poeta Homero. Trata-se da guerra de Tróia, que ocorreu por volta
de 1225 a.C. Provavelmente, foi o auge do poderio aqueu. No século seguinte, a
civilização micênica desaparecerá sobre os golpes dos dóricos, invasores também
vindos do nordeste. Até hoje, todas essas mudanças apresentam muitos problemas
para os arqueólogos e historiadores. No entanto, as crenças religiosas, os
mitos e as lendas mantiveram-se mais ou menos iguais. Aliás, o que sabemos
dessa época vem principalmente de autores do período dórico, sobretudo Homero e
Hesíodo. Quando Homero nos diz da guerra de Tróia fala de um acontecimento que
já era velho, ocorrido havia uns quatro séculos! Mas graças a ele conhecemos,
em detalhes, os mitos dos antigos gregos.
A
religião grega
Para eles, a natureza era não apenas uma paisagem, um
ambiente, mas uma coisa realmente viva. No menor dos riachos, na mais minúscula
pedrinha, na árvore, o grego sentia a presença de um ser vivo. Toda a natureza
era povoada de ninfas, divindades que eram representadas como belas jovens, mas
que podiam morrer. Assim, ao derrubar uma árvore, o lenhador matava a ninfa que
a habitava.
Seres como os sátiros, com torso de homem e patas de
bode, representavam as forças desenfreadas da natureza.
O chefe deles, o deus Pã, encarnava-as de uma forma
aterrorizante. Sua simples aparição causava muito medo – e ele era apenas um
dos muitos deuses secundários da mitologia grega...
Os gregos acreditavam na existência de doze grandes
divindades que se reuniam em seus tronos no alto do Olimpo. Geralmente esses
deuses e deusas eram associados a fenômenos naturais. A arma de seu rei, Zeus,
era o raio – os helenos consideravam a tempestade um efeito da cólera do grande
deus. Da mesma forma, os terremotos relativamente comuns na Grécia,
explicava-se pelo mau humor de Posídon, o deus dos mares, que batia com seu
tridente no fundo do oceano. Aos olhos dos antigos, o percurso do Sol no céu
correspondia à trajetória do carro de Apolo, que de manhã surgia das ondas no
oriente e de tarde desaparecia no ocidente. Além disso, a crença em outros
deuses tinha a função de fazer que fossem respeitadas as regras das atividades
humanas. Ártemis comandava os caçadores; Hefesto, os ferreiros; Esculápio, os
médicos; Hermes, os ladrões e os comerciantes...
Essas crenças aplicavam-se a todos os gregos, mas, por
causa das divisões em cidades-estados e dos numerosos costumes locais, o Zeus
adorando em Corinto, em Argos ou em Tebas não era sempre exatamente o mesmo.
Mito
e realidade
Por isso, é frequente conhecermos em formas diversas o
mesmo mito. Cada uma dessas versões tem seu próprio interesse, mesmo sendo
bastante diferentes, segundo os lugares e as épocas em que aparecem. É possível
mais ou menos explicar a origem de algumas dessas histórias. Assim, a guerra
dos titãs contra os deuses pode estar ligada à descoberta de ossadas de mamutes
na região de Trebizonda, no litoral do mar Negro. Diante desses ossos imensos,
cuja origem não compreendiam, os gregos encontram uma explicação: deviam ser
restos de gigantes vencidos pelos deuses.
Provavelmente, outras narrativas têm origem histórica.
Héracles mata o leão de Neméia e a hidra de Lerna. No primeiro caso, seu feito
talvez simboliza o desbravamento de uma mata cerrada. No segundo, a conquista
de um pântano insalubre. Aliás, a guerra de Tróia e a colonização do Mediterrâneo
foram enaltecidas por meio das aventuras de Aquiles e de Ulisses.
Como já dissemos, os mitos e as lendas dos gregos nos
fornecem muitas informações sobre sua história, seu modo de vida, seus desejos
e medos. Ainda hoje, as narrativas conservam o mesmo encanto que exerciam sobre
os antigos. Na idade do Bronze, quando as distorções eram raras, os aedos
caminhavam pelas estradas da Grécia, parando em aldeias e em palácios. Cantavam
as proezas e os infortúnios dos heróis e os prodígios dos deuses. Durante muito
tempo, essas histórias eram transmitidas apenas oralmente. Só muito mais tarde
foram escritas.
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