Cara Minha Inimiga
Cara minha inimiga, em cuja mão Pôs meus contentamentos a ventura, Faltou-te a ti na terra sepultura, Por que me falte a mim consolação. Eternamente as águas lograrão A tua peregrina formosura: Mas enquanto me a mim a vida dura, Sempre viva em minha alma te acharão. E, se meus rudos versos podem tanto, Que possam prometer-te longa história Daquele amor tão puro e verdadeiro, Celebrada serás sempre em meu canto: Porque, enquanto no mundo houver memória, Será a minha escritura o teu letreiro. Luís Vaz de Camões, in "Sonetos"