Figuras à Margem da Sociedade Ganham o Centro das Telas
Toulouse-Lautrec era
apaixonado pelo que se pode chamar “mundo marginal” parisiense do final do
século XIX. Como musas, Lautrec elegeu personagens anônimos, principalmente
mulheres. Garçonetes, dançarinas, de cancã, prostitutas e lésbicas foram sua
principal fonte de inspiração para criar envolventes personagens erotizadas
que, no entanto, também o levaram à decadência. Rosa La Rouge, sua modelo
predileta, lhe transmitiu a sífilis, doença que, aliada ao alcoolismo, foi
responsável pela morte precoce do pintor, aos 36 anos de idade.
Apesar
do nanismo e do aspecto pouco atraente de seu corpo de homem sobre pernas de
garoto, Toulouse-Lautrec seduzia as mulheres pelo bolso, mantido cheio pela
nobre família de Albi, sul da França. Nos momentos de depressão, o artista
refugiava-se nos bordéis e relacionava-se cm artistas como La Goulue, a dançarina mais famosa do Moulin Rouge, Jane Avril, Yvette Guilbert, Grille d’Égout
e Raynon d’Or, todas suas madonas, retratas em pôsteres e quadros. Outra
figura feminina de destaque foi sua mãe, a condessa Adèle, com quem o artista se correspondia frequentemente e
costumava visitar nas férias.
Lautrec
tinha mesa cativa no Moulin Rouge, aonde ia com um bloquinho para anotar todas
as atitudes e gestos das dançarinas e prostitutas, com quem dividia a solidão e
miséria moral. Considerava-as prisioneiras de um luxo artificial e, por isso,
insistia em pintá-las vestidas, enquanto aguardavam os clientes em divãs, ou no
momento do abandono, esgotadas pela noite, soltando ligas e desatando
espartilhos. De personalidade conturbada e provocadora, Lautrec vangloriava-se
em público de suas conquistas amorosas. Foi o italiano Zandomeneghi, que trabalhava com Pierre-Auguste Renoir, em Paris,
quem apresentou Marie Valadon a
Lautrec. Marie foi a célebre modelo da tela Acrobata
Equestre (1884), que mudou o nome para Suzanne a pedido do artista. Suzanne Valadon tornou-se amante de
Lautrec e modelo de várias obras do artista, como La Buveuse, admirada por Van Gogh.
Seu pai, envergonhado com suas
atitudes, chegou a pedir-lhe que não usasse mais o sobrenome da família, fato
que o levou a criar anagramas como Tréclau ou TREclau. Lautrec, aliás, herdou a
excentricidade do pai, que costumava caçar vestido de cossaco e oferecer
água-benta aos falcões de estimação, para que não fossem privados da religião
professada pela família. Não raro, o artista pintava vestido de trajes
orientais. Na bengala que sustentava o corpo ocultava engenhosamente uísque ou
conhaque e um pequeno copo. Apesar do estilo de vida dissoluto, Lautrec era um
artesão dedicado – chegava cedo ao ateliê mesmo depois de passar a noite toda
bebendo, na farra com mulheres. Para o artista francês, o mundo marginal era o
combustível de sua obra – inigualável.
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