Ode aos calhordas - Rubem Braga
Os
calhordas são casados com damas gordas
Que às
vezes se entregam a benemerência:
As
damas dos calhordas chamam-se calhordas
E
cumprem seu dever com muita eficiência
Os
filhos dos calhordas vivem muito bem
E fazem
tolices que são perdoadas.
Quanto
aos calhordas pessoalmente porém
Não
fazem tolices – nunca fazem nada.
Quando
um calhorda se dirige a mim
Sinto
no seu olho certa complacência.
Ele
acha que o pobre e o remediado
Devem
procurar viver com decência.
Os
calhordas às vezes ficam resfriados
E essa
notícia logo vem nos jornais:
“O sr.
Calhorda acha-se acamado
E as
lamentações da Pátria são gerais.”
Os
calhordas não morrem – não morrem jamais
Reservam
o bronze para futuros bustos
Que
outros calhordas da nova geração
Hão de
inaugurar em meio de arbustos.
O
calhorda diz: “Eu pessoalmente
Acho
que as coisas não vão indo bem
Pois há
muita gente má e despeitada
Que não
está contente com aquilo que tem.”
Os
calhordas recebem muitos telegramas
E
manifestações de alegres escolares
Que por
este meio vão se acalhordando
E
amanhã serão calhordas exemplares.
Os
calhordas sorriem ao Banco e ao Poder
E são
recebidos pelas Embaixadas.
Gostam
muito de missas de ação de graças
E às
sextas-feiras comem peixadas.
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