Toulouse-Lautrec (França, 1864-1901)
Ex-maldito, pintor de bêbedos, prostitutas, gigolôs e artistas
alternativos como os circenses, o boêmio Henri-Marie-Raymond de
Toulouse-Lautrec passaria hoje por um produtor engajado, que tematiza
comportamentos dos excluídos da sociedade. Um contrassenso em relação a sua
origem aristocrática. Filho de Alphonse e Adèle, condes franceses cujas raízes
remontam ao tempo de Carlos V, Lautrec nasceu no dia 24 de novembro de 1864, em
Albi. Uma anomalia hereditária aliada a uma queda de cavalos selou seu destino,
atrofiando-lhe braços e pernas, mas mantendo sua cabeça em tamanho normal – o
que parecia transformá-la em algo imenso – e limitando seu corpo a 1,52 m. a
deficiência física – advinda do casamento consanguíneo de seus pais, primeiros
em primeiro grau – o marcou profundamente desde a infância. Seu irmão mais
novo, Richard-Constantine, morreu com um ano. A tendência de os membros da
família se casarem entre si para evitar a divisão do patrimônio gerou, no
mínimo, outros três primos anões. A saúde debilitada e a separação dos pais
antes que Lautrec tivesse completado 4 anos o levaram bem cedo a buscar os
pincéis e as tintas. Aos 6 anos, já rabiscava cadernos e, aos 14, produziu as
primeiras pinturas a óleo, aproveitando os longos períodos de convalescência ou
aqueles em que suas pernas ficavam imobilizadas. A família, como a maioria dos
nobres, sempre cultivou a pintura e a música erudita, e seu pai foi exímio
desenhista. Em razão da deformidade física, Lautrec não tinha perspectivas de
carreira no exército ou na diplomacia. Tudo colaborava para que se dedicasse às
artes. Por isso, ele deixou a província aos 18 anos para estudar pintura em
Paris. Sua alucinada vida noturna na capital francesa levou o pai a renega-lo e
a ceder os direitos de sucessão a Alix, irmã de Lautrec. O artista tinha
verdadeira idolatria pelo pai. Também sua mãe, Adèle, muito católica e dedicada
à caridade, teve grande influência na vida do pintor. Mesmo separada do marido
e abalada com as amizades “pouco recomendáveis” do filho, mandava-lhe dinheiro
e cartas. Foi ela quem o levou para casa na ocasião de seu derradeiro ataque de
paralisia, em 1901, decorrente da sífilis aguda. O vício, porém, sempre o
venceu: Lautrec chegou a sair de um manicômio e ir diretamente para o bar. Em
seus últimos anos de vida, em função da rotina desregrada que mantinha desde os
18 anos de idade, passou a sofrer cada vez mais com as crises de saúde. Elas eram
constantes e obrigavam o artista a passar longas temporadas à beira-mar. No dia
20 de agosto foi levado a Malromé, onde faleceu em 9 de setembro de 1901. Tinha
36 anos, mas já havia feito história na arte e na noite de Paris com sua vasta
e peculiar obra.
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