Uma tal de Filomena
Marco Antonio Hailer
Aconteceu na cidade com um cidadão decente que se dizia peão
e conhecia tudo sobre animais. Tudo era exagero, mas dizem que sentado na sela
sobre um cavalo bravo o homem era um rei. O animal esperneava, suava, ficava
molhado como se tivesse entrado num rio, mas Zé do Bigode ( esse era o apelido
) serrava os olhos, colocava no bicho, mexia os braços como se fosse um maestro
durante um concerto de orquestra e dominava a fera. Depois, cumprimentava
sorrindo o povo que aplaudia delirante e sem pressa, descia do lombo do
coitado. Era sem sombra de dúvidas o maior domador de cavalos da região.
Mas como um dia é da caça e o outro do caçador... Nem sempre
o homem vence o desafio da vida. E para o Zé do Bigode foi assim: chegou na
cidade um desconhecido que se dizia dono do burro mais feroz do mundo, um burro
que nenhum ser vivo conseguia domar. Zé do Bigode não acreditou. Foi conversar
com o distinto estranho e aceitou o desafio de montar o tal burro. Fizeram uma
aposta, marcaram a hora e o lugar.
O povo da cidade inteira estava lá no momento do
acontecimento. O burro também, sem ter a menor ideia de que o cavalheiro que se
aproximava vagarosamente passo a passo arreou o animal e foi subindo devagar. O
burro nem se mexeu, nem deu a mínima para o ilustre domador. Foi aí que o
estranho gritou sem dó:
- Eia, burro! A Filomena vai te morder!
O burro deu um salto tão brusco, um salto só, mas tão
violento que jogou o Zé para longe do assento. Até hoje ele não entendeu nada,
quase perdeu o senso...
Para as mais curiosas, o estranho contou um segredo: a mula
Filomena, que se guardava escondida, era muito mais feroz que o burro e mordia
sempre o lombo do animal desprevenido. O burro não podia ouvir falar seu nome
que... vocês já sabem... Coitado do Zé do Bigode!
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