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Mostrando postagens de fevereiro, 2012

Ser pai - Soneto

Ser pai Ser pai é sustentar filhos e filhas, Pagar colégios, roupas e condução, Tratar também da mãe das maravilhosas, Ter paciência e ter compreensão. É conservar o riso com que brilhas Se um dos meninos pega o teu carrão, Ataca de piloto das mil milhas E estoura o carro numa contramão. É não pensar, em noites de vigílias Se é frequentada a boate onde eles vão, Por meninos “maus” de boas famílias E boas meninas mas “famílias”, não. É, enfim, sentir a vida começar De novo neles, como um resumo Do que fizestes antes de casar. Ou, então, se acaso tomam outro rumo, É ter em casa um Punk a te acusar De “PAI DA SOCIEDADE DE CONSUMO”. Jô Soares

Canto de regresso à pátria

Oswald de Andrade Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar Os passarinhos daqui Não cantam como os de lá Minha terra tem mais rosas E quase que mais amores Minha terra tem mais ouro Minha terra tem mais terra Ouro terra amor e rosas Eu quero tudo de lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte para lá Não permita Deus que eu morra Sem que volte pra São Paulo Sem que veja a Rua 15 E o progresso de São Paulo

Soneto ao inverno - Vinícius de Moraes

Inverno, doce inverno das manhãs Translúcidas, tardias e distantes Propício ao sentimento das irmãs E ao mistério da carne das amantes: Quem és, que transfiguras as maçãs Em iluminações dessemelhantes E enlouqueces as rosas temporãs Rosa-dos-ventos, rosa dos instantes? Por que ruflaste as tremulantes asas Alma do céu? o amor das coisas várias Fez-te migrar - inverno sobre casas! Anjo tutelar das luminárias Preservador de santas e de estrelas... Que importa a noite lúgubre escondê-las? Londres, 1939.

Pingo do Céu (Alexon Veriscimo)

Pingo Que pinga Na telha Da gente Que desperta A semente Inocente E se junta E se une Aos pingos Que correm Enfileirados Ao rio Que se enche E se alegra. Gota louvada Romântica Que desvenda O segredo Do sono Gostoso Nas noites De chuva.

Nova Canção do Exílio - Drummond

Um sabiá na palmeira, longe. Estas aves cantam um outro canto. O céu cintila sobre flores úmidas. Vozes na mata, e o maior amor. Só, na noite, seria feliz: um sabiá, na palmeira, longe. Onde tudo é belo e fantástico, s ó, na noite, seria feliz. (Um sabiá, na palmeira, longe.) Ainda um grito de vida e voltar para onde tudo é belo e fantástico: a palmeira, o sabiá, o longe.