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Mostrando postagens de abril, 2010

O amor - Mário de Sá-Carneiro

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MOTE Amor é chama que mata, Sorriso que desfalece, Madeixa que desata, Perfume que esvaece. (popular) GLOSAS Amor é chama que mata, Dizem todos com razão, É mal do coração E com ele se endoidece. O amor é um sorriso Sorriso que desfalece. Madeixa que se desata Denominam-no também. O amor não é um bem: Quem ama sempre padece. O amor é um perfume Perfume que se esvaece. Mário de Sá-Carneiro

Todas as cartas de amor... - Fernando Pessoa

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Fernando Pessoa (Poesias de Álvaro de Campos) Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas. Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas. As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas. Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas. Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas. A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas. (Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.) Álvaro de Campos, 21/10/1935

Poema de sete faces - Carlos Drummond

Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. De Alguma poesia (1930) Fonte: http://www.horizonte.unam.mx/brasil/drumm1.html

Consumismo - (Durval Filho)

Compra meio quilo de amizade. – Ah! não esquece de pechinchar, Se eu pudesse mesmo Mandava comprar o amor. Compra também um sorriso pro meu filho, Ele está com saudades de mim. Vê se tem propaganda na tevê. – Olha! compra um sorriso bem bonito, Daquele que eu já não sei fazer. Veja nos classificados Liquidação de mulheres, Preciso arranjar uma de brilho leve... – Viu! procure nos folhetos impressos, Uma que aceite ficar... E, por fim, Traga o nosso jantar. Fonte: http://durvalpoeta.vilabol.uol.com.br/social.html

Povos - (de Durval Filho)

São muitas as raças, Diferentes os povos, Etnias, costumes, crenças, Dentro da panela-de-pressão/MUNDO. A história, até hoje, repete Guerras, conflitos. E o caldo entorna, Manchando os olhos De quem pondera. Pudera ter poder Para apaziguar a terra em guerra. Fonte: http://durvalpoeta.vilabol.uol.com.br/social.html

Poema em linha reta - Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. Toda a gente que eu...

Crônica do Amor - Arnaldo Jabor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta. O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera. Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco. Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no ódio vocês combinam. Então? Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do...

O Galo e a Pedra Preciosa

Um Galo, que procurava alimento para ele e suas galinhas, acaba encontrando uma pedra preciosa de majestosa beleza e valor. Mas, depois de observá-la por algum tempo, comenta desolado: Se ao invés de mim, teu dono tivesse te encontrado, ele com certeza não iria se conter diante de tanta alegria, e é quase certo que iria te colocar em lugar digno de veneração. No entanto, eu te encontrei e de nada me serves. Antes disso, preferia ter encontrado um simples grão de milho, a que todas as jóias do Mundo! Autor: Esopo Moral da História: A necessidade de cada um é o que diz o real valor das coisas.

O Galo e a Pedra Preciosa

Um Galo, que procurava alimento para ele e suas galinhas, acaba encontrando uma pedra preciosa de majestosa beleza e valor. Mas, depois de observá-la por algum tempo, comenta desolado: Se ao invés de mim, teu dono tivesse te encontrado, ele com certeza não iria se conter diante de tanta alegria, e é quase certo que iria te colocar em lugar digno de veneração. No entanto, eu te encontrei e de nada me serves. Antes disso, preferia ter encontrado um simples grão de milho, a que todas as jóias do Mundo! Autor: Esopo Moral da História: A necessidade de cada um é o que diz o real valor das coisas.

O Cachorro e Sua Sombra

Um cachorro, que levava na boca um pedaço de carne, ao atravessar uma ponte sobre um riacho, vê sua imagem refletida na água. Diante disso, ele logo imagina que se trata de outro cachorro, com um pedaço de carne maior que o seu. Então, ele deixa cair no riacho o pedaço que carrega, e ferozmente se lança sobre o cachorro refletido na água, para tomar o pedaço de carne que pensa ser maior que a sua. Agindo assim ele perdeu a ambos. Aquele que tentou pegar na água, por se tratar de um simples reflexo, e o seu próprio, uma vez que ao largá-lo nas águas, a correnteza levou para longe. Autor: Esopo Moral da História : É um tolo e duas vezes imprudente, aquele que desiste do certo pelo duvidoso.

A Mulher e a Galinha

Uma mulher tinha uma galinha, que todos os dias sem falta, botava um ovo. Ela então pensava consigo mesma, como conseguiria fazer com que, ao invés de um, ela botasse dois ovos por dia. Assim, disposta a conseguir atingir seu ideal, decidiu alimentar a galinha com um dobro de porção de ração. A partir daquele dia, a galinha ficou gorda e preguiçosa, e nunca mais botou nenhum ovo. Autor: Esopo Moral da História: O Ganancioso, cedo ou tarde, acaba por se tornar vítima de sua própria ganância.

O Leão Apaixonado

Um Leão pediu a filha de um camponês em casamento. O Pai, desgostoso por não poder dizer não, já que dele tinha muito medo, viu também no momento, um bom modo de livrar-se de vez por toda do problema. Ele disse que concordaria em tê-lo como genro, mas com uma condição; Este deveria deixar-lhe arrancar suas unhas e dentes, pois sua filha tinha muito medo dessas coisas. Contente da vida leão concordou. Feito isso, o ele volta a fazer seu pedido, mas o camponês, que já não mais o temia, pegou um cajado e expulsou-o de sua casa, o que o fez com que o leão voltasse para a floresta. Autor: Esopo Moral da História: Todos os problemas, quando examinados de perto, acabam por revelar sua solução.

O Lobo e a Ovelha

Um lobo, muito ferido devido à várias mordidas de cachorros, descansava doente e bastante alquebrado em sua toca. Como estava com fome, ele chamou uma ovelha que passava ali perto, e pediu-lhe para trazer um pouco da água de um riacho que corria ao lado dela. Assim, falou o lobo, se você me trouxer água, eu ficarei em condições de conseguir meu próprio alimento. Claro, respondeu a ovelha, se eu levar água para você, sem dúvida eu serei esse alimento. Autor: Esopo Moral da História: Um hipócrita não consegue disfarçar suas verdadeiras intenções, apesar das palavras gentis. http://cantinhodasfabulas.vilabol.uol.com.br/oloboeaovelha.html

As Árvores e o Marchado

Um homem foi à floresta e pediu às árvores, para que estas lhe doassem um cabo para o seu machado novo. O conselho das árvores então decide concordar com o seu pedido, e lhe dá uma jovem árvore para este fim. E logo que o homem coloca o novo cabo no machado, começa furiosamente a usá-lo, e em pouco tempo, já tinha derrubado com seus fortes golpes, as maiores e mais nobres árvores daquela floresta. Um velho Carvalho, observando a destruição à sua volta, comenta desolado com um Cedro seu vizinho: O primeiro passo significou a perdição de todas nós. Se tivéssemos considerado os direitos daquela jovem árvore, também teríamos preservado os nossos, e poderíamos ficar de pé ainda por muitos anos. Autor: Esopo Moral da História: Quem menospreza seu semelhante, não deve se surpreender se um dia lhe fizerem a mesma coisa.

O Galo e a Raposa

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No meio dos galhos de uma árvore bem alta um galo estava empoleirado e cantava a todo volume. Sua voz esganiçada ecoava na floresta. Ouvindo aquele som tão conhecido, uma raposa que estava caçando se aproximou da árvore. Ao ver o galo lá no alto, a raposa começou a imaginar algum jeito de fazer o outro descer. Com a voz mais boazinha do mundo, cumprimentou a galo dizendo: - Oh! meu querido primo, por acaso você ficou sabendo da proclamação de paz e harmonia universal entre todos os tipos de bichos da terra, da água e do ar? Acabou essa história de ficar tentando agarrar os outros para comê-los. Agora vai ser tudo na base do amor e da amizade. Desça para a gente conversar com calma sobre as grandes novidades! O galo, que sabia que não dava para acreditar em nada que a raposa dizia, fingiu que estava vendo uma coisa lá longe. Curiosa, a raposa quis saber o que ele estava olhando com ar tão preocupado. - Bem – disse o galo – acho que estou vendo uma matilha ali adiante. ...

A galinha reivindicativa

Millôr Fernandes "Em certo dia de data incerta um galo velho e uma galinha nova encontraram-se no fundo de um quintal, entre uma bicada e outra, trocaram impressões sobre como o mundo estava mudado. O galo, porém, fez questão de frisar que sempre vivera bem, tivera muitas galinhas em sua vida sentimental e agora, velho e cansado, esperava calmamente o fim de seus dias. - Ainda bem que você está satisfeito - disse a galinha. - E tem razão de estar, pois é galo. Mas eu, galinha, fêmea da espécie, posso estar satisfeita? Não posso. Todo o dia pôr ovos, todo semestre chocar ovos, criar pintos, isso é vida? Mas agora a coisa vai mudar. Pode estar certo de que vou levar uma vida de galo, livre e feliz. Há já seis meses que não choco e há uma semana que não ponho um ovo. A patroa, se quiser, que arranje outra para esses ofícios. Comigo, não, violão! O velho galo ia ponderar filosoficamente que galo é galo e galinha é galinha e que cada ser tem sua função específica na vida, quando ...

O Socorro - Millôr Fernandes

Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão – coveiro – era cavar demais. Mas, de repente, na distração do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar e viu que sozinho não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova, desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardas. Bateu o frio da madrugada e, na noite escura, não se ouvia um som humano, embora o cemitério estivesse cheio dos pipilos e coaxares naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova, o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. Uma cabeça ébria apareceu lá em cima, perguntou o que havia: - “O que é que há?”. O coveiro então gritou desesperado: - “Tire-me daqui, por favor. Estou com um frio terrível!”. - “Mas coitado!”, condoeu-se o bêbado. “Tem toda razã...

Bicho urbano - Ferreira Gullar

Se disser que prefiro morar em Pirapemas ou em outra qualquer pequena cidade do país estou mentindo ainda que lá se possa de manhã lavar o rosto no orvalho e o pão preserve aquele branco sabor de alvorada Não não quero viver em Pirapemas Já me perdi Como tantos outros brasileiros me perdi, necessito deste rebuliço de gente pelas ruas e meu coração queima gasolina (da comum) como qualquer outro motor urbano A natureza me assusta. Com seus matos sombrios suas águas suas aves são como aparições me assusta quase tanto quanto esse abismo de gases e de estrelas aberto sob minha cabeça. Do livro: "Toda poesia - 1950-1980", Civilização Brasileira, 1980, RJ

São João - Bárbara Vasconcelos.

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Quantos balões coloridos, buscando o céu e o luar!... Parecem sonhos perdidos da mocidade a escapar. A fogueira crepitante joga estrelinhas no chão... E a juventude brilhante faz sorte e adivinhação. As crianças a gritar soltam fogos multicores, que sobem para levar a São João seus louvores. É a festa ruidosa, é uma noite diferente... Há muita coisa gostosa e o quentão que aquece a gente. São João, festa querida, cheia de encanto e calor de vibração e de vida, de fantasia e de amor!