Saudades - Francisco Manuel de Melo
Serei
eu alguma hora tão ditoso,
Que os
cabelos, que amor laços fazia,
Por
prémio de o esperar, veja algum dia
Soltos
ao brando vento buliçoso?
Verei
os olhos, donde o sol formoso
As portas
da manhã mais cedo abria,
Mas, em
chegando a vê-los, se partia
Ou
cego, ou lisonjeiro, ou temeroso?
Verei a
limpa testa, a quem a Aurora
Graça
sempre pediu? E os brancos dentes,
por
quem trocara as pérolas que chora?
Mas que
espero de ver dias contentes,
Se para
se pagar de gosto uma hora,
Não
bastam mil idades diferentes?
D.
Francisco Manuel de Melo. In Poemas de Amor. Antologia de poesia portuguesa
Org.
de Inês Pedrosa. Lisboa, Dom Quixote, 2001
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