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Mostrando postagens de maio, 2010

Contos de fadas

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Os contos de fadas são uma variação do conto popular ou fábula. Partilham com estes o fato de serem uma narrativa curta, transmitida oralmente, e onde o herói ou heroína tem de enfrentar grandes obstáculos antes de triunfar contra o mal. Caracteristicamente envolvem algum tipo de magia, metamorfose ou encantamento, e apesar do nome, animais falantes são muito mais comuns neles do que as fadas propriamente ditas. Alguns exemplos: "Rapunzel", "Branca de Neve e os Sete Anões" e "A Bela e a Fera". Etimologia A palavra portuguesa "fada" vem do latim fatum (destino, fatalidade, fado etc). O termo se reflete nos idiomas das principais nações européias: fée em francês, fairy em inglês, fata em italiano, Fee em alemão e hada em espanhol. Por analogia, os "contos de fadas" são denominados conte de fées na França, fairy tale na Inglaterra, cuento de hadas na Espanha e racconto di fata na Itália. Na Alemanha, até o século XVIII era utili...

O assassino era o escriba

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Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente. Um pleonasmo, o principal predicado de sua vida, regular como um paradigma da 1ª conjunção. Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. Casou com uma regência. Foi infeliz. Era possessivo como um pronome. E ela era bitransitiva. Tentou ir para os EUA. Não deu. Acharam um artigo indefinido na sua bagagem. A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, conectivos e agentes da passiva o tempo todo. Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça. Paulo Leminski

Balada do Esplanada - Oswald de Andrade

Ontem à noite Eu procurei Ver se aprendia Como é que se fazia Uma balada Antes de ir Pro meu hotel. É que este Coração Já se cansou De viver só E quer então Morar contigo No Esplanada. Eu queria Poder Encher Este papel De versos lindos É tão distinto Ser menestrel No futuro As gerações Que passariam Diriam É o hotel É o hotel Do menestrel Pra me inspirar Abro a janela Como um jornal Vou fazer A balada Do Esplanada E ficar sendo O menestrel De meu hotel Mas não há, poesia Num hotel Mesmo sendo 'Splanada Ou Grand-Hotel Há poesia Na dor Na flor No beija-flor No elevador

Vício na fala - Oswald de Andrade

Para dizerem milho dizem mio Para melhor dizem mió Para pior pió Para telha dizem teia Para telhado dizem teiado E vão fazendo telhados

O capoeira - Oswald de Andrade

— Qué apanhá sordado? — O quê? — Qué apanhá? Pernas e cabeças na calçada.

O gramático - Oswald de Andrade

Os negros discutiam Que o cavalo sipantou Mas o que mais sabia Disse que era Sipantarrou.

Ode aos calhordas

Os calhordas são casados com damas gordas Que às vezes se entregam à benemerência: As damas dos calhordas chamam-se calhôrdas E cumprem seu dever com muita eficiência Os filhos dos calhordas vivem muito bem E fazem tolices que são perdoadas. Quanto aos calhordas pessoalmente porém Não fazem tolices — nunca fazem nada. Quando um calhorda se dirige a mim Sinto no seu olho certa complacência. Ele acha que o pobre e o remediado Devem procurar viver com decência. Os calhordas às vezes ficam resfriados E essa notícia logo vem nos jornais: "O Sr. Calhorda acha-se acamado E as lamentações da Pátria são gerais." Os calhordas não morrem — não morrem jamais Reservam o bronze para futuros bustos Que outros calhordas da nova geração Hão de inaugurar em meio de arbustos. O calhorda diz: "Eu pessoalmente Acho que as coisas não vão indo bem Pois há muita gente má e despeitada Que não está contente com aquilo que tem." Os calhordas recebem muitos teleg...

Ao espelho - Rubem Braga

Tu, que não foste belo nem perfeito, Ora te vejo (e tu me vês) com tédio E vã melancolia, contrafeito, Como a um condenado sem remédio. . Evitas meu olhar inquiridor Fugindo, aos meus dois olhos vermelhos, Porque já te falece algum valor Para enfrentar o tédio dos espelhos. . Ontem bebeste em demasia, certo, Mas não foi, convenhamos, a primeira Nem a milésima vez que hás bebido. . Volta portanto a cara, vê de perto A cara, tua cara verdadeira, Oh Braga envelhecido, envilecido.

Trapezista, Cecília Meireles

De que maneira chegaremos às brancas portas da Via-láctea? Será com asas ou com remos? Será com os músculos com que saltas? Leva-me agarrada aos teus ombros como um cendal para agasalhar-te! Seremos pássaros ou anjos atravessando a sombra da tarde! Deixaremos a terra juntos e justapostos como metades, sem o triste pó dos defuntos, sem qualquer bruma que enlute os ares! Sem nada de humanos assuntos: muito mais puros, muito mais graves! Autor: Cecília Meireles

Colar de Carolina - Cecília Meireles

Com seu colar de coral, Carolina corre por entre as colunas da colina. O colar de Carolina colore o colo de cal, torna corada a menina. E o sol, vendo aquela cor do colar de Carolina, põe coroas de coral nas colunas da colina. Autor: Cecília Meireles

Coliseu, Cecília Meireles

Cem mil pupilas houve: - cem mil pupilas fitas na arena. Os olhos do Imperador, dos patrícios, dos soldados, da plebe. Os olhos da mulher formosa que os poetas cantaram. E os olhos da fera acossada, do lado oposto. Os olhos que ainda brilham fulvos, agora, na eternidade igual de todos. Cem mil pupilas: - ilustres, insensatas, ferozes, melancólicas, vagas, severas, lânguidas... Cem mil pupilas vêem-se, na poeira da pedra deserta. Entre corredores e escadas, o cavo abismo do úmido subsolo exala os soturnos prazeres da antiguidade: Um vozeiro arcaico vem saindo da sombra, - ó duras vozes romanas! - um quente sangue vem golfando, - ó negro sangue das feras! um grande aroma cruel se arredonda nas curvas pedras. - Ó surdo nome trêmulo da morte! (Não cairão jamais estas paredes, pregadas com este sangue e este rugido, a garra tensa, a goela arqueada em vácuo, as cordas do humano pasmo sobre o último estertor...) Cem mil pupilas ficam aqui, pregadas nas pedra...