O defunto eleitoral - Lourenço Diaféria

Atacado a traição por um quibe frito, Ermenegildo morreu. A família lastimou, os amigos se surpreenderam – “Puxa, o Ermenegildo? Mas ele estava bom até outro dia mesmo!...” –, o patrão mandou coroa de flores, dispensou os empregados para comparecerem ao enterro, desde que compensassem as horas paradas, no fim de semana, e alguém comentou: “É, chegou a hora dele. Aliás, ultimamente está morrendo gente que nunca havia morrido antes!” Ermenegildo era um dos melhores cabos eleitorais do bairro. Tinha influência na região e havia conseguido alguns melhoramentos públicos, como a passagem da carrocinha de cachorros duas vezes por mês, capina do campo de futebol, policiamento ostensivo a cada três meses e a cessão de um terreno em comodato para instalação de uma quadra poliesportiva de malha, bocha e dominó. Apesar de sua autoridade de cabo eleitoral, nunca se prevalecera disso. Viajara apenas cinco vezes, em toda sua vida, em carro de chapa-branca, mesmo assim a serviço de candidat...